foto: www.angels-on-earth.us
"ó avó... porque é que eu não posso voar e os passarinho sim?"
"quem te disse que não podes?"
"ó avózinha... não vês que eu não tenho asas!!??"
"minha linda menina... as tuas asas não se vêm, são invisíveis... só as usas quando dormes, quando sonhas no quentinho da tua caminha
quando queres muito fazer uma coisa, elas aparecem..."
"mas eu nunca as vi..."
"se fachares os olhos ves!"
com os olhinhos fechados, tentou ver as suas asinhas de menina... mas nada... abriu um olho e viu que a avó ali estava a sorrir-lhe, como se soubesse de qualquer segredo que ela não...
"ó avó... não vejo nada! e o pai disse que quando tu eras pequenina voavas, lá no céu voavas muito..."
"é verdade, voava, voava muito... lá no alto, perto das nuvens... via todas as pessoas pequeninas, as casa pareciam as das tuas bonecas, as árvores eram flores, e os rios simples gotas de água... mas já não voo há muito tempo..."
"voavas
no moçambique?"
"sim linda... voava
em moçambique. sabes, ali era fácil voar, havia tanto espaço e ninguém tinha medo."
"eu não tenho medo de nada!" dizia ela para mostrar que também queria voar. e a verdade é que não tinha mesmo medo... "as tuas asas eram grandes avó?"
aquela avó sabia que não podia dizer que as suas asas eram na verdade as asas do seu avião, daquele avião onde aprendeu a voar, que a levava para longe, sozinha, onde se sentia forte, grande e ao mesmo tempo tão pequenina... sabia que os olhos da sua neta não iriam perceber que bastava ser das poucas mulheres em moçambique naquele tempo que sabiam pilotar um avião, para se sentir a voar... para sentir que podia vencer o mundo... para aquela menina, bastavam assas, asas com penas brancas como os cisnes, leves como os pássaros que ela via da sua janela, grandes como os seus sonhos... sabia que naqueles sonhos estava também a vontade, a coragem para agarrar nessas mesma asas, dar-lhe vida... e voar...
"sabes linda, prometo que um dia verás as tuas asas, sentirás que voaste muito, por vezes muito alto, outras muito rápido, e vais ver que ao olhar para trás percorreste muito, que bateste forte e conseguiste alcançar tanta coisa. ouve o que eu te digo,
mesmo que pareça que já voaste o suficiente... nunca pares! olha para as nuvens que rasgaste com as tua lindas asas, e leva os bocados de céu percorrido contigo... mas nunca, nunca deixes de bate-las com força, nunca deixes que não te levem com elas..."
ela pensou... ficou baralhada com o que a sua avó querida disse, mas pensou...
"ó avó... fazes-me umas asas verdadeiras e metes nas minhas costas?... é que eu não consigo esperar até ir para a cama dormir, para as ver!!"
até hoje a minha avó sabe que eu adoraria ter asas, sabe que por mais voltas que o mundo dê, no fundo eu só queria asas... o que ela me disse naquele dia ficou comigo
e tento mostrar-lhe que afinal ela tinha razão... eu voei e voei bem alto... já caí algumas vezes, mas pus as mãos á frente dos olhos como naquele dia
e vi as asas que tanto quis.
hoje... bem, hoje as minhas asas ficam guardadas para voos mais altos, porque por vezes, quando as ponho... deixo que o vento me leve.
:)
Bicukinha voa voa...
..bem queria eu...
Que bonito! Fez-me lembrar as histórias da minha avó.
Nao metiam asas nem vôos. Mas sim couves gigantes e polícias, que vinham atrás de mim. Eram só histórias assustadoras mas era o que eu pedia sempre para ela me contar :)