Ensaios sobre a Cegueira com que partimos para um Mundo fora de Portugal



Copenhaga é o campo!

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Num dia esgotaram os bilhetes para dois concertos dos Radiohead em Copenhaga!
Um Dia! E muita gente que tentou no próprio dia não conseguiu...
Hoje descobri a razão. A sala que estas alminhas organizadoras escolheram para concerto de uma banda famosa tem capacidade para 3.000 pessoas!

Que tansos… e fica meia cidade a chuchar no dedo!
Se fosse em Lisboa radiohead iriam pelo menos a um Pavilhão Atlântico que leva 20.000 pessoas.

A actividade cultural nesta cidade, que à primeira vista parece muito cosmopolita, deixa MUITO a desejar.


ik graag...

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há uns tempos pediram-me para escrever qualquer coisa sobre Antuérpia... e eu achei que seria bastante fácil, ia conseguir descrever muito em pouco espaço e eficazmente... mas assim que me sentei em frente do computador, fiquei em branco. por momentos pensei que era por não ter depois de 9 meses nada nesta cidade, e desta nova vida aqui de que realmente gostasse. parei... e como ex-aluna de arquitectura, que aprende no primeiro dia que em frente de um papel branco, é impossível ter uma ideia excelente... ou quase sempre impossível... decidi esperar. já esperei imenso para que me viesse á cabeça um texto digno do EXPRESSO. não há nada a fazer... é agora ou nunca.
antes de mais queria clarificar que talvez a palavra "cidade" seja demais, ou até inexistente em Antuérpia. aqui, todos sem excepção, dizem "antwerpen is niet een stad... het is een kleinje stad!" ou seja, não é cidade, é cidadezinha! e talvez isto seja o factor mais importante para que te prenda o coração. nesta cidadezinha onde só se fala em diminutivo, todas as palavras acabam com "...je" (traduzido: "...inho"), onde tudo parece ser de escala menor, de tamanho pequeno, é onde maior parte das coisas na Bélgica acontecem. os "antwerpenaars" sentem-se donos de um pedaço do mundo, pequenino, mas deles! algum de nós sente que uma cidade é verdadeiramente nossa? penso que não... é raro ver alguém tão apaixonado pelas qualidades, e justificando os defeitos como os que aqui vivem. sabem perfeitamente que o sol não brilha sempre aqui.. que passam meses por vezes sem o ver... mas esperam, desejam-no, muito até... sabem o que vale, sabem o que valem as 24 horas do dia, sabem que trabalhar bem, rápido e poder sair ás 5 da tarde para tomar um café com os amigos logo a seguir ao trabalho, ajuda a passar o tempo, ajuda a manter o espírito sempre bem disposto.
...talvez sejamos nós, os do sul, tão "mimados" que nem nos lembramos de aproveitar os últimos raios de sol durante o dia com os amigos? porque é que todos em Portugal quando saiem do trabalho, depois de 8 horas, não conseguem em vez de ir direitinhos á tv em casa, ir tomar um café até ao jantar, talvez até jantar fora, sem stresses, sem vestirem uma roupa diferente, sem se maquilharem outra vez, como se quisessem meter uma outra personalidade cá fora? aqui, o dia tem continuação... claro que ajuda não ter carro, de bicicleta ou a pé é bem mais fácil parar no primeiro café e telefonar a um amigo e dizer "ik ben hier!", acredito que ter com o carrinho sempre á mão seja dificil poder parar onde se quiser, e já que o temos "´bora a casa, e daqui a 4 horas saímos de novo!".
nunca o percebi... mas também o fiz.
penso que seja um enorme contributo á vida desta pequena cidade, que quer ser grande, ái não tenham dúvidas, mas no fundo... é bom assim! eu pensava que eram os espanhóis que viviam mais a rua, mas parece que não só, se calhar os espanhóis aproveitam mais a noite na rua, mas aqui aproveita-se tanto o DIA! sim... lembram-se do DIA? sabem... quando se vê o céu azul, quando se consegue ver tudo sem luzes acesas? isso... chama-se DIA! e quem o conhece melhor são os "flamengos". não há rua vazia por estas bandas. não há café sem clientes. não há loja sem dinheiro a ser gasto... estranho, mas enfim, são muito consumidores, mas como as lojas não se encontram dentro de um grande COLOMBO ajuda a que pelo menos enquanto fazem "shopping" vivem a rua, com os filhos pequenos que aprendem a andar de bicla, ou de patins, ou simplesmente a andar...
por isto e outras tantas coisas... acredito que aqui, o tempo é diferente. já tinha escrito isso no meu blog, mas sinto que o dia não é igual, nem precisa ser mais comprido, ter mais horas, é saber aproveitar melhor. saber ter gozo no facto de faltar uma hora para ficar noite. desde que cheguei tenho amigos meus que me dizem que me ambientei bem, conheço os melhores cafés, os melhores restaurantes, as melhores esplanadas... perguntam se quando voltar a Lisboa se será assim...
eu respondo sempre "...ainda preciso descobrir muito de Lisboa. há coisas que nem me passam pela cabeça, mas isso depende de mim, de todos, querer vivê-las, querer conhecê-las... por isso farei um esforço, é preciso, Lisboa merecia ter habitantes assim, como voçês! para além de que TEMOS SOL O ANO TODO!!!!"

o objectivo é criar-lhes inveja... e funciona, mas tenho mesmo pena que nem todos os alfacinhas e outros vegetais (ou família) portugueses não se lembrem nunca do DIA quando estão em terras Lusas, mas sim só quando estão fora.


Ode às banheiras de café

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Ao contrário da maioria dos portugueses, eu não gosto de bica. Quer dizer, não sou fã da biquinha bebida com a barriga encostada aos inenarráveis balcões/frigoríficos de vidro que estão plantados em quase todos as pastelarias da nossa terra. No entanto, confesso, que só uma bica amarga (apesar do açúcar) me faz acordar. Recordo agora com alguma nostalgia as manhãs em que a caminho do jornal fazia uma paragem quase religiosa na Mexicana para beber uma bica e um pastel de nata e ainda ler as “gordas” do Público. E sempre achei ridículo o termo “ir ao café”, já que se demora menos de 2 minutos a sorver aquele líquido amargo e, na maioria das vezes, fica-se com a língua queimada.

Mas mesmo ainda em Lisboa gostava de ir a uma rede de cafés franchisados – um pouco estranhos, sem dúvida -, chamados Cup & Cino, única e exclusivamente porque era (e é) dos únicos locais na cidade onde se pode beber um “café piscina”, daqueles enormes com muita água e que nunca chegamos realmente a acabá-lo porque, entretanto, arrefeceu. Adoro esse tipo de café! E, esse sim, vale a pena afirmar “vamos tomar um café?“.

Portanto, aqui na Holanda, em termos de café, estou nas minhas “sete quintas”. O expresso é terrível o que mais me ajuda a beber “as minhas” banheiras de café. E adoro.

E gosto especialmente de uma rede de cafés que existe aqui – não sei se já existe noutras cidades holandesas -, chamado Coffee Company (ver foto). O que podia ser mais um café franchisado torna-se, em qualquer dos locais (conheço pelo menos 4 lojas em A’dam) num agradável café para ler, utilizar o portátil ou simplesmente estar. Um das lojas mais movimentadas fica na Haarlemdijk, perto do Jordaan. E, ao sábado de manhã fica sempre num frenesim, com pouco espaço, mas tipicamente Amesterdão. E o café é excelente. Com enormes banheiras de café para todos os gostos. Lekker, hoor!

Tenho quase a certeza que uma loja destas em Lisboa seria um negócio condenado ao sucesso.

Quem sabe….


Mediterrenean men...

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Just back from Athens, and one thing is clear...There, as in any mediterrenean city, when you are a girl you don't need to be on a podium or be dressed by Christian Lacroix to have men looking at you! Definetely Greek men are not ashamed to look and Greek girls are not afraid to show!
So globe-trotter girls one advice...follow the birds and migrate south!


Feliz Aniversario

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Uma das coisas que a estada em Amesterdão me fez mudar foi na forma como vejo e sinto o meu aniversário.

Sempre o considerei um dia especial - como todos nós achamos do dia em que nascemos-, mas sempre liguei mais à data quando vivia em Portugal do que aqui na Holanda. Aqui está-se longe da família, dos amigos mais próximos, estamos no meio de desconhecidos, com apenas uma ou duas pessoas realmente especiais.

No entanto, se tentava, em Lisboa, arranjar forma de reunir os amigos, aqui, as preocupações passam sobretudo para o toque do telemóvel ou quando este recebe sms de alguém, em Portugal, a desejar-me feliz aniversário. Dou por mim a contabilizar quem me telefona ou quem me liga sem ligar. E fico chateado com aqueles que nem sequer um mail me enviam. Claro que isto tudo é bastante relativo, passadas umas horas nem me lembro do aniversário e nem me lembro das pessoas que se esqueceram. Tudo isto serve para tentar avaliar - estupidamente, claro -, se o provérbio "longe da vista, longe do coração" é verdadeiro. E já tive algumas surpresas...




- Bicicletas + Bicicletas + Bicicletas: tenho píncaros de felicidade quando me transporto de maneira tão simples e tão rápida e vou por aí a cantar com o vento, a chuva ou a neve a bater-me na cara.
- Vida ao ar livre: Aqui há muito menos natureza que em Portugal, mas aproveito-a aqui MUITO melhor. Há pistas de bicicleta pelo país inteiro por entre florestas e bosques, à roda de lagos e à beira da praia. Parques pela cidade que são usados por toda a gente para piqueniques, jogos, churrascos. E sobretudo o hábito de ir passear ao ar livre, fazer canoagem ou simplesmente aproveitar o pouco bom tempo que há fora de casa.
- Boa vida: entrar às nove e sair às cinco sem ser olhada de lado como preguiçosa ou inútil.
- Ter 6 semanas de férias.
- Viver numa sociedade justa onde eu sei que quase toda a gente tem uma vida decente.
- Gosto de ser estrangeira e começar quase todas as minhas conversas com estranhos com perguntas sobre Portugal.

Foto: René Molbo


'As Cegas Vê-se Tudo

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(Guitarra Portuguesa - José Manuel)

Jantava há dias numa mesa onde se reuniam várias nacionalidades, entre as quais a Italiana e a Espanhola, para além da Portuguesa.

A determinado trecho, começou a tocar Flamenco e eis que a Espanhola sorriu: "Ah, Flamenco!". Reconheci-me naquele gesto e sorriso. Naquele conforto que o que nos é familiar trás, enchendo o nosso olhar, mesmo que por fracções de segundos, de uma doçura que só quem sente Saudade consegue expressar.

- Sabes! - disse-lhe - até sair de Portugal não suportava Fado. Não gostava mesmo, mas mesmo nada. Tanta tristeza, tanta dor... bah, para coisas más já nos bastam os infortúnios da vida, e repudiava-o. Mas agora, desde que me encontro longe, consigo percebe-lo e identifico todas essas tristezas e dores, que não são tristes mas sim intensas e sentidas. Agora adoro Fado!

Não se espantou. Respondeu-me revelando exactamente a mesma descoberta:

- Eu também não gostava nada de Flamenco e agora... a mesmíssima coisa que tu com o Fado. Adoro!

Neste ponto juntou-se a Italiana 'a conversa:

- Engraçado, eu também só comecei a gostar de Pavaroti após me encontrar no estrangeiro!

O longe se faz perto. E' então quando, 'as cegas, nos lançamos 'a aventura do desconhecido que nos agarramos ao que de mais familiar temos e que mais nos trás o que é nosso. E aí, ainda 'as cegas, começamos a Ver. A ver melhor que nunca e a perceber e a encontrarmo-nos. E há uma guitarra dentro de nós. E todos nós somos Fado!

"É meu e vosso este fado
Destino que nos amarra
Por mais que seja negado
Às cordas de uma guitarra

Sempre que se ouve o gemido
De uma guitarra a cantar
Fica-se logo perdido
Com vontade de chorar

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

E pareceria ternura
Se eu me deixasse embalar
Era maior a amargura
Menos triste o meu cantar

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

(O' gente da Minha Terra - Amália Rodrigues)"


Hey teacher, leave the kids alone!

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Quando era puto do secundário nunca fui dado a grandes relacionamentos com o sexo oposto. Eu era mais do grupo da bola e das anedotas que propriamente do jogo do pé ou de ir a correr cada vez que alguém se juntava para jogar "ao poço".
Não, não era por feitio ou vontade própria. Era mesmo porque eu não fazia muito o género que as míudas procuravam... Ou melhor, até fazia, mas só de uma ou duas que... não faziam o meu género! Portanto, nunca andei em grandes marmelanços pelos corredores da escola ou nas festas no ginásio.
Hoje, com 30 anos, apesar de achar que "são putos e não percebem nada do assunto", percebo o quão importante é para o desenvolvimento infanto-juvenil (para não se chegar à minha idade e andar a provocar meio mundo nas discotecas com comportamentos indecorosos... hehehe!).

Há pouco nas minhas passeatas pelo mundo bloguístico, deparei com uma pérola da estupidez adulta....

Rezava assim:

"INFORMAÇÃO/PREMONIÇÃO

Com a Primavera surge uma temperatura amena, uma luminosidade intensa, despertam as plantas, folhas e florzinhas, os insectos, as formigas, as abelhinhas, toda a natureza se alegra.
Neste contexto natural, nos jovens e adolescentes despertam também amizades, amores e paixões que os levam a comprotamentos teatrais, hollyoodescos, alguns de pura alegria da juventude mas outros, por excessivos ultrapassam os limites do decoro.
Por tudo isto aconselho todos os alunos atingidos pelo Cupido, sofrendo de paixão fulminante que, por respeito por si próprio, pelo outro, e por todos nós, que evitem ultrapassar a fronteira do pudor e do decoro, mesmo do Regulamento Interno.
Peço a todos Brads Pitts e Angelinas Jolies que evitem manifestações de amor demasiado cinematográficos, perante as multidões, comportamentos só aceitáveis, na paz do Senhor."

A missiva está assinada por um tal José Maria Azevedo Teixeira, presidente do Conselho Executivo da Escola Secundária do Marco de Canavezes e data de 13 de Fevereiro de 2006.
Podem obter o original junto da Classe Média.

Agora pergunto:
Não é já horinha de deixar de lado estes pensamentos bacocos e dar liberdade aos nossos sentimentos em vez de reprimir o que de mais bonito temos dentro de nós?...
Não é já hora de deixarmos de esconder O Amor e fazer das suas expressões algo de condenável e pecaminoso?
(Mesmo que mais tarde se venham a arrepender de tais manifestações, certamente que serão pessoas mais felizes e por certo que a felicidade, sendo uma coisa contagiante, passará para os que os rodeiam. Afinal quem é que já assistiu a cenas de pugilato adolescente, enquanto um parzinho se dedica ao treino da bela arte do linguado (palavra horrorosa!!)? Ninguém! Porque um beijo, uma mão aqui e outra ali só nos transmitem pensamentos e sentimentos positivos, certo?)

Quando deixaremos de ter comportamentos moralistas, baseados numa lógica cristã que já cheira mal de tanto bolor?
Por certo que o JC seria o primeiro a glorificar a beleza dos comportamentos primaveris...


Roma citta eterna

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There are already three countries in my heart (Italy, France and Netherlands) and many others where I have been living only for a limited time (oh California.... such an enriching experience!).
But there is only one city in the world where I feel completely myself, where I like the noise and the smells, where I like the somehow polite arrogance or the impolite phlegm, where I can wait for hours in a queue wich is never straight or which usually never exist...but who cares when you have thousands of beauties to look at while waiting? An open museum, colours on every house, history on every corner...

All the roads bring to Rome so why did I escape? Ambition? Expectations of something better? But is there really anything better than the smell and the sounds of our own hometown? Even though we may have to wait on line and restart all the procedure again the day after for any administrative matter? Even though we can not ride a bicycle without being killed?
Wherever we travel, wherever we go, we will always be back from where we started! And I am lucky as Roma is eternal and will always be there waiting for me!!!

A nostalgic evening next to a beautiful canal triggered by all these "what I miss and I don't have here..." I would say in only one word THE ATMOSPHERE!!!! This is the main difference....

And if you go to Roma don't forget to throw a coin in Fontana di Trevi to make sure that you will be back!


Nao há duas sem tres...

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Ponta Delgada.

E o mar. Que Ponta Delgada sem mar nao é nada. é descer a minha rua em direccao à marginal e ver os barquitos no porto. É estar nessa avenida e ver a montanha possante à minha frente. Como se surgisse do nada, do meio do mar.
A cidade das dúvidas da adolescencia, das brincadeiras e da escola. A cidade onde encontro os amigos antigos, aqueles que farao sempre parte do quadro que compoe as memórias da minha terra...

Lisboa.

E os sonhos. O futuro. O amor pela ciencia, a adoracao pela investigacao.
Os amigos da faculdade. As noitadas à desgarrada. As rebelias da juventude.
A semana académica e as festas populares... ah!


Freiburg.

Quebra da rotina. As amizades assentes em interesses comuns.
Os hobbies novos, os interesses recalcados reencontrados.
A decepcao, a vontade de mudar. Mudar de vida.
Um abrir de horizontes. Uma nova maneira de sonhar...


'Casa' sao elas todas... E as minhas "casas" reflectem as minhas paixoes...Em todas elas eu poderia viver e ser feliz. Fico triste por nao saber como escolher...




Teria tanta coisa para dizer sobre Lisboa e Amesterdão que prefiro apenas escrever o essencial.

Lisboa é parte de mim, gosto dela como se fosse alguém da família, nasci nela sem escolher, tal como acontece com a família, e com ela irei morrer, faz parte da minha maneira de ser. Amesterdão é um amor diferente, mais comparável com aquele que sentimos por um(a) namorado(a), é algo também muito forte, mas com dias menos bons – onde até pensamos noutras cidades (Barcelona, por exemplo) -, mas onde nos sentimos no céu, em outros tantos dias.

Prefiro assim explicar as minhas razões, e apenas uma por cidade, pelas quais tenho mais dificuldades em viver em ambos os locais:

Tenho muita dificuldade em viver em Amesterdão não trabalhando na minha área. Embora escreva em português no emprego, o trabalho é monotono e nada criativo, sem oportunidades de ver o meu salário aumentar, nem de subir na hierarquia da empresa. Esta é uma das razões porque mais ano, menos ano, tenho que voltar. (Isto se nada mudar entretanto...)

Em relação à dificuldade que terei em voltar a viver em Lisboa, sei, de certeza absoluta, que irei ter muitas saudades das oportunidades empreendedoras que existem em Amesterdão e da forma muito própria como esta cidade é vivida e se deixar viver, sobretudo na liberdade e descontracção.

Serei sempre um Amsterdamer em Lisboa, bem como um alfacinha em Amesterdão.



Só para chatear...

- Mesmo sendo a "cidade cinzenta", o Porto tem incomparavelmente mais sol;
- As feijoadas, cozidos à portuguesa, bifanas, francesinhas e tudo aquilo que leva enchidos de mais, nos dá saúde de menos e vai contra todas as normativas europeias de produção alimentar, mas que me faz lamber os beiços e salivar;
- Poder fazer ou pedir para "dar um jeitinho";
- As "eternamente inocentes, puras e virginais" mulheres portuguesas que ao contrário das suas congéneres "abertas, independentes e experimentadas" holandesas tornam o "jogo" muito mais divertido - mesmo que um gajo vá para casa a xuxar no dedo;
- Em Portugal nunca ouvi os meus vizinhos como se eles estivessem a compartilhar casa comigo. Por aqui até os "segredinhos" do vizinho se conseguem ouvir;
- Poder sair às duas da manhã para uma noitada de copos sem sentir que já vou chegar ao final da festa;
- Chegar a um tasco qualquer, pedir um café e trazerem-me um verdadeiro cimbalino, sem bolachinha ou chocolate a acompanhar, mas pelo qual não chego a pagar 1€;
- Pastéis de nata, bolinhos de bacalhau, pataniscas, rissóis, ginginhas, traçadinhos e e todas essas coisas para encher "a cova do dente", mas sem comparação com bitterballen, frikandel e todos estes pré-fabricados alimentares que os holandeses adoram;
- Ir ao mercado comprar peixe e as mulheres de "pelo na venta" tratarem-me por "Ò 'mor!";
- O Público, o Expresso (e a eterna Gina!!!);
- O José Alberto Carvalho, a Ana Peixoto, as manhãs da Antena3, as notícias da TSF;
- A família;
- Os amigos de longa data;
- As amigas que já conhecem todas as minahs "manhas" e preferem o "curto e grosso" ao "charme latino".


foto: C@B


Mais novo, menos cego

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Sinceramente, gostava de ser mais novo e ir daqui para Barcelona, depois mais seis meses no Sul de França (Avignon e Aix-en-Provence), talvez experimentar dois meses na Croácia, mais dois em Nova Iorque e outros tantos em São Francisco. Passava ainda pelo Rio de Janeiro. E depois regressava à pátria. Acho que apenas assim deixava de estar às cegas. Mas como a idade já começa a “pesar”, esta aventura em Amesterdão já me dá o título de “GANDA MALUCO” por parte de alguns amigos.


quero asas...

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foto: www.angels-on-earth.us

"ó avó... porque é que eu não posso voar e os passarinho sim?"
"quem te disse que não podes?"
"ó avózinha... não vês que eu não tenho asas!!??"
"minha linda menina... as tuas asas não se vêm, são invisíveis... só as usas quando dormes, quando sonhas no quentinho da tua caminha
quando queres muito fazer uma coisa, elas aparecem..."
"mas eu nunca as vi..."
"se fachares os olhos ves!"

com os olhinhos fechados, tentou ver as suas asinhas de menina... mas nada... abriu um olho e viu que a avó ali estava a sorrir-lhe, como se soubesse de qualquer segredo que ela não...
"ó avó... não vejo nada! e o pai disse que quando tu eras pequenina voavas, lá no céu voavas muito..."
"é verdade, voava, voava muito... lá no alto, perto das nuvens... via todas as pessoas pequeninas, as casa pareciam as das tuas bonecas, as árvores eram flores, e os rios simples gotas de água... mas já não voo há muito tempo..."
"voavas no moçambique?"
"sim linda... voava em moçambique. sabes, ali era fácil voar, havia tanto espaço e ninguém tinha medo."
"eu não tenho medo de nada!" dizia ela para mostrar que também queria voar. e a verdade é que não tinha mesmo medo... "as tuas asas eram grandes avó?"

aquela avó sabia que não podia dizer que as suas asas eram na verdade as asas do seu avião, daquele avião onde aprendeu a voar, que a levava para longe, sozinha, onde se sentia forte, grande e ao mesmo tempo tão pequenina... sabia que os olhos da sua neta não iriam perceber que bastava ser das poucas mulheres em moçambique naquele tempo que sabiam pilotar um avião, para se sentir a voar... para sentir que podia vencer o mundo... para aquela menina, bastavam assas, asas com penas brancas como os cisnes, leves como os pássaros que ela via da sua janela, grandes como os seus sonhos... sabia que naqueles sonhos estava também a vontade, a coragem para agarrar nessas mesma asas, dar-lhe vida... e voar...

"sabes linda, prometo que um dia verás as tuas asas, sentirás que voaste muito, por vezes muito alto, outras muito rápido, e vais ver que ao olhar para trás percorreste muito, que bateste forte e conseguiste alcançar tanta coisa. ouve o que eu te digo,
mesmo que pareça que já voaste o suficiente... nunca pares! olha para as nuvens que rasgaste com as tua lindas asas, e leva os bocados de céu percorrido contigo... mas nunca, nunca deixes de bate-las com força, nunca deixes que não te levem com elas..."

ela pensou... ficou baralhada com o que a sua avó querida disse, mas pensou...
"ó avó... fazes-me umas asas verdadeiras e metes nas minhas costas?... é que eu não consigo esperar até ir para a cama dormir, para as ver!!"

até hoje a minha avó sabe que eu adoraria ter asas, sabe que por mais voltas que o mundo dê, no fundo eu só queria asas... o que ela me disse naquele dia ficou comigo
e tento mostrar-lhe que afinal ela tinha razão... eu voei e voei bem alto... já caí algumas vezes, mas pus as mãos á frente dos olhos como naquele dia
e vi as asas que tanto quis.
hoje... bem, hoje as minhas asas ficam guardadas para voos mais altos, porque por vezes, quando as ponho... deixo que o vento me leve.


ir ver

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"Hoje entendo bem meu pai. Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV.
Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu.
Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor.
Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio tecto.
Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver."
Amyr Klink, em Mar sem Fim

foto: Filipe Lamas


ao sol...

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continuo á procura dele... está no meu sangue, faz parte de mim.

e no entanto parece que me escondo. escolhi viver onde ele raramente vem... escolhi andar por caminhos mais frios, onde ele tem dificuldade a chegar, onde a sua rival neve o impede de brilhar...

desde miúda que sei que ele faz parte da minha vida... sinto no cheiro da minha pele, aquecida por ele, que ele aqui pertence...

não sei quando me poderá aquecer assim de novo... não sei se o vou sentir tão forte como em lisboa... mas o que sei é que ele memso no frio, mesmo na neve, mesmo no vento... estará sempre á minha procura... e eu dele.